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TIRADENTES - O Que Comer

Se tem uma comidinha honesta neste Brasil de meu Deus é a de Minas Gerais. Lá em Tiradentes e região tive uma recaída brava. Este abaixo é o Tempero da Angela. Fica em Bichinho. A impressão que se tem é que você está até invadindo a cozinha da casa pois as pessoas se servem diretamente no fogão à lenha, enquanto a Angela tá lá acabando de refogar alguma coisa. Os talheres estão no armário dela, os copos na cristaleira. Enfim, mais caseiro impossível. Comida muito gostosa.
  De um modo geral, adorei a comida, adorei a fartura das porções, o tempero e o requinte com o qual é servida. Aguça todos os sentidos e ainda me trouxe recordações de momentos felizes da infância. Um exemplo disto é este senhor aí mexendo o doce de leite no tacho no fogão à lenha há mais de 40 anos. É o Francisco de Paula Xavier, de 74 anos, mais conhecido como Chico Doceiro. Fácil de achar a loja pois tem o mesmo nome Chico Doceiro( Rua Francisco Pereira de Morais, 74, Centro.O doce depois é colocado no nosso velho conhecido "canudinho" de massinha crocante feito pela mulher dele. É perfeito. Tem também o Doce do Bolota que era diabético e desenvolveu um doce de leite light. Feito com 15 litros de leite e 200 gramas de açúcar. Bolota faleceu e quem continua a mexer o doce até hoje é sua mulher Célia e as 3 filhas. Vale a visita aos fundos da casa onde se pode degustar outras delícias não tão lights. R. Bias Fortes, 77 (Cascalho)

Não estive em todos os restaurantes que estou mostrando aqui. A Tetê esteve lá há 9 anos e daí voltou há uns 3 meses e gostou tanto que nos arrastou para lá. Na segunda vez foi comemorando aniversário de casamento então meu compadre estava "de boa" e topava tudo que estava escrito no famoso "caderninho" com dicas de viagens da Tetê. Uma das dicas imperdíveis: Pau de Angu. Um restaurante no caminho pra Bichinho, no meio de um pasto, ou seja, do nada, (2 km de terra) bem no pé da Serra de São José, numa casa simples, num ambiente rústico, serve pratos fartos preparados na hora, tudo produto deles, ingredientes da horta dalí mesmo. Frango caipira, lingüiça de pernil defumada no fogão à lenha (servida de entrada), lombo daqueles conservados na banha e de sobremesa um bufê de doces caseiros com umas 12 variedades numa cozinha típica super charmosa. 
Daí, no centro histórico, na linda Rua Padre Toledo, tem o Theatro da Villa.  Pense num restaurante requintado e ao mesmo tempo "desencanado". É chic, é meio galeria de arte, é romântico, cheio de detalhes e o moço simpático que nos recebeu falava com tanto entusiasmo sobre o lugar e os detalhes que achamos que era o dono. Mas na verdade estes são os gêmeos Carlos Eduardo (o Chef) e Carlos Fernando. Djavan e Ignácio de Loyola Brandão até fizeram poesias dedicadas ao Chef e às suas criações. Olha só um exemplo: "Perdiz desossada, recheada de vitelo, ao molho de blueberries e amoras pretas, acompanhada de purê de palmito pupunha e alho porró". Tiraram 1o lugar de Melhor Prato no XI Festival de Gastronomia de Tiradentes em 2008.
Lembra daquelas cruzes que me impressionaram? Pois é, aí estão elas novamente expostas, emolduradas de formas distintas na parede do banheiro do Theatro da Villa. Imagens sacras também estão exibidas lá de uma forma diferente entre outros objetos de arte.
E tem também o Ora Pro Nobis, muito charmoso, bem em frente ao Chafariz. Os pratos mais típicos deste são: Ora Pro Nóbis(frango e Costela de porco), lombinho à mineira e leitão à pururuca. Perto dali, o Viradas do Largo, também conhecido como Restaurante da Beth, é ótimo, lá tem o frango com angu e ora-pro-nóbis colhida no quintal. Tutu com costelinha, o angu feito de fubá de moinho d'água e feijão-tropeiro daquele bem vermelhinho. Até comprei pra trazer. Beth Beltrão deixa bem claro que não se pode ter pressa para comer. Fica difícil esperar pois quando ela começa a cozinhar o aroma vai se espalhando e dá uma fome danada. Rua do Moinho, 11
E acima, o Tragaluz. 
"Primeiro eu vi a bica. Depois eu vi que ela formava pequeno poço forrado de pedras. E a água era pura, transparente. Então - neste poço enfiei os pés. Água muito fria. E logo após, na água que caía enfiei as mãos, e com elas em concha deixei que delas a água transbordasse. Foi então que lavei meus olhos, e em seguida minha boca, fazendo renascer em mim paisagens esquecidas, palavras já não ditas, projetos guardados em lugares desconhecidos. Foi nesta pia que gravei no musgo a data deste batismo, e me vi com delicioso encantamento elaborar desenhos. Desenhos de sonhos; guardando entre os dedos pequenino ramo de delicadas flores, que guardada entre os papéis secaram com o tempo, permanecendo o pedido que fiz à natureza: - Que o novo Ano me TRAGA LUZ!"
Zenilca de Navarro
 
Com paredes de taipa (tijolo com adoube) e decoração muito curiosa, peças de demolição da própria casa por ocasião da reforma e recolhidas com carinho e expostas em vitrines pela proprietária Zenilka Navarro. O cardápio é desenhado à mão, parece literatura de cordel, conta historinha da galinha d'angola, uma das especialidades da casa.Tem também por lá mais de 20 cadernos expostos com comentários dos clientes. É o preferido do governador Aécio Neves e de muita gente "V.I.P"
E olhem só a "belezura" deste doce de limão cravo!( Foto da Tetê).Os mineiros, de lá pra cá, conseguiram ainda dar uma "sofisticada" no que já era bom. Tudo ficou mais bonito, mais refinado, criativo. Deram um verdadeiro upgrade nas receitas tradicionais preservando os elementos básicos. Por exemplo, ao lado do doce de limão cravo (ou china) tem a famosa goiabada com castanha de cajú servida no Tragaluz numa cama de requeijão com sorvete de goiaba. O próximo prato é o jaleco de capote da Estalagem do Sabor, um mexidinho com um feijão vermelho que nunca vi igual, lombo, banana, couve e uma dedo de moça pra enfeitar. Perfeito. Hoje a casa tem alguns pratos exclusivos como jiló preguento, abóbora real, mané sem jaleco, joão pronto e beliscão. Não deixe de experimentar o creme de mandioca com carne seca e a sobremesa de doce de limão capeta recheado com doce de leite. O outro prato da foto tem um picadinho, banana caramelada na rapadura,ovo frito, e por aí vai. Tudo servido com o charme de uma panela de barro, de ferro ou de pedra sabão e, dependendo do lugar, talheres de prata, castiçais de estanho, guardanapos de tecido impecáveis, luminárias charmosas, toalhinhas de crochet. Tudo obra de gente do lugar. Tudo com o requinte na medida exata para o cenário histórico. Lembra casa de vó, lembra dia de festa de antigamente.

Comentários

Lucansfer disse…
Já fui lá e como um bom apreciador de tudo que há em Minas, faltou falar da Cachaça.
Como é boa.
E no Bichinho, tem uma cachacinha divina. A cachaça Velho Ferreira. Muito gostosa

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