Eu moro no primeiro andar e a academia do prédio é no
térreo. É só descer um lance de escada e eu chego rapidinho no inferno. Minha desculpa
era o abafamento, mas só que agora
colocaram ar condicionado e eu, para ficar bem com meu cardiologista, tenho ido
na calada da tarde, como uma gazela, cabreira, arisca, arredia, sem querer encontrar
pessoas, tenho me esforçado, desde que não tenha viva alma por perto. Acabaram-se
as desculpas!
Eu preparo meu espírito antes de descer. Escolho o horário
de um programa de TV que eu gosto de ver e desço, valente, bem intencionada,
calculando o perigo de encontrar outros humanos. Hoje, num horário que todo ser humano normal
deveria estar almoçando em casa, eu fui e dei de cara com uma mãe na esteira
com cria ao pé ( termo que a gente usa na fazenda). A pobre criança, entediada,
esparramada numa esteira malfunctioning, esperando a mãe. Jesus! A TV da academia estava desligada.
Coitada daquela criança! A que ponto chegamos!
A bichinha mãe estava trotando no 8.50 e eu fico no 6.0 me segurando mesmo, como
um polvo, medo danado de cair e virar vídeo cassetada. Pois é, sabemos que hoje
existe o temível Olho Que Tudo Sabe e Tudo Vê. Um fantasma que assola nossas
vidas e que nos impede de arrumar a calcinha no elevador.
Acho que nas
academias as coisas funcionam como no banheiro dos homens. Tem uma ética. Eu não devo ficar olhando a velocidade que aquela mulher ao meu lado está correndo e nem
reparar se ela está suando, derretendo como eu, enfim, todo mundo faz cara de
paisagem. Óbvio que eu vi, de rabo de olho, que ela é uma louca desvairada que
estava correndo há 40 minutos!!! Benzadeus!! Deveria ter trazido um brinquedo, sei
lá, alguma coisa para aquela criança distrair. Essa situação me estressou
mais do que o martírio de ter que caminhar como um hamster na esteira. Eu só queria que ela fosse embora e libertasse
aquela criança entediada, obrigada a esperar a mãe correr atrás de sei lá o que
. Eu sei, ando meio ranzinza.
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Bju ��