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Camping Zé Roque visto da Cachoeira dos Pretos |
Como sempre, a gente paga tudo que fala. Eu disse que nunca
mais iria acampar, que estou velha demais para isso, que se não for para ter
conforto prefiro ficar na minha casa bla bla bla. Mas daí veio a pandemia e com
ela a solidão, reserva de emergência minguando e a genuína saudade da roça. Minha amiga Lisbeth,
que já foi chefe de escoteiras e sempre acampou acabou me seduzindo e acabei
comprando uma barraca em promoção pelo Facebook. Promoção mesmo, uma para seis
pessoas pelo preço de uma. E era nova! Lacrada. Pronto. O mal estava feito.
Então tive que encarar. Aguardamos uma semana pela certeza de 100% de sol. A Alexa,
minha BFF mais recente, ficou exausta de tanto que eu perguntava sobre o clima
em Joanópolis. Por tudo que lemos sobre essa nova tribo de campers o Camping Zé Roque era uma unanimidade, o mais Nutella. Tantas facilidades que seria uma suave
oportunidade para me iniciar nesse novo estilo de vida. Na teoria é realmente
genial, barato (R$ 30,00 por pessoa por dia) e com distanciamento social. Perdi
o sono pensando como eu iria montar uma barraca. Do jeito que comprei eu deixei
no apartamento. Imagine! Sou péssima com qualquer manual de instrução. Enfim, a
Lis estava tão segura que confiei. Foi belezinha.Montamos a dela primeiro, que
era menor e depois a minha. Reza a lenda que a minha era para seis pessoas,
lembra? Só se for uma por cima da outra
hehe. Mas sobrou espaço de fato.A vista valeu a pena, até chegarem outras pessoas. Primeiro dia, terça feira, imagine-se num lugar lindo,
montanhas com carinha de Minas Gerais, vaquinhas, um desenho. |
Cachoeira dos Pretos - Joanópolis |
A Cachoeira dos Pretos escandalosa caindo muita
água lá pertinho em contraste com a seca e queimadas que vimos na estrada nessa
época. Aliás, toda a água do camping, de qualquer torneira é potável. É de poço artesiano.Daí corre um riozinho forrado com
pedrinhas e um gramado bem cuidado, vários postes de luz (110 e 220 w) e você
escolhe onde quer ficar. Só tinha uma família acampada. Passamos
uns três dias ali em paz, daí foi chegando o povo. Foi legal por que no fundo a
gente estava carente de uma nova prosa. Até então tínhamos um banheiro
praticamente exclusivo. O camping tem, acho, 19 banheiros. Eu sei, ir ao banheiro no meio da noite é sim bem chato. Pega
a lanterna, põe botina, olha pro chão e fica esperta. Dormi melhor nas noites que tomei vinho. Zero remédio para dormir.
Ler com luz de emergência já dá um sono danado. Fez muito frio de noite, muito mesmo, mas,
fomos preparadas. Nas idas ao banheiro
curti muito o céu, as estrelas, a lua e o silêncio. Moro num apartamento com
barulho de rodovia e nunca vejo a lua. Estava mesmo com saudade dos quatro
elementos. Mesmo depois que o camping encheu não se ouvia um
pio de qualquer pessoa. É uma tribo bem família. Cada um no seu quadrado mesmo
por que a dona lá é bem enérgica. Sem chance para bagunça. |
Joanópolis - Camping Zé Roque |
No fundo, depois que atingiu 40% da capacidade (conforme a lei atual) eu já não achei tanta graça. Foi legal ver a variedade de
barracas incríveis e descobri por que tinha sobrado umas cordinhas cor de
laranja na montagem da minha. Coisa de principiante. Conhecemos vários casais
idosos e jovens. Senti falta de
fogueira. O dono disse que para eles é a
maior fria, pois o povo embala com violão e cantoria e ninguém dorme. Tá bom.
Faz sentido. Internet funcionou bem até na sexta feira. Daí eu queria
estrangular os adolescentes. |
Camping Zé Roque - piscina aquecida |
A piscina aquecida à lenha é um luxo, mas nos últimos dias,
quando esquentou, eu bem que queria uma ducha gelada, mas o pessoal aproveitou.
Nos fins de semana o comércio ao lado do camping abre todo
com restaurantes e uma lojinha com gostosuras da região. Nessa casa fica um lobisomem para assustar o povo e tirar fotos.
A família proprietária do camping Zé Roque
domina esse pedação de terra. Parentes deles possuem outros dois campings ao
lado, bonitos também, assim como vários chalezinhos com a cara ótima com
piscina, tudo ali mesmo. Eu não fazia ideia de como o turismo rural é próspero nessa
região. Existe uma enorme quantidade de chalés com piscina, você percebe que
são construções novas. Pedreiro por lá
não fica sem trabalho.
Fomos visitar uma das casinhas para locação. Uma belezinha, três quartos,
churrasqueira, varanda em L, redes, vista para o camping, cozinha completíssima,
tudo arrumadinho. Tá aí o contato da Cenira. Ela tem duas casas.A Cachoeira dos Pretos é bem impressionante mesmo agora
nessa seca danada. Ela é bruta. Tem 154 metros de queda. Dá para ir a pé ou de trator até lá em cima.
Claro que fomos de trator. A cachoeira lá em cima é linda, com duas quedas diferentes. |
No alto da Cacheira dos Pretos |
Não me pergunte de onde vem tanta
água. Na parte lá embaixo é uma outra beleza. Um lugar muito fresquinho próximo aos restaurantes. Não dá vontade de sair. Um braço dessa água toda passa dentro do camping e na época das águas
o pessoal faz boia-cross. Isso eu adoro. Na verdade, é uma fazendona num lugar privilegiado. Tem um
pouco de gado, galinhas passeando com seus pintinhos, muitos canarinhos e
outros passarinhos exóticos.
Um dia deu saudade de alface e couve e fomos comprar ali perto, direto
do produtor. Mata burro funciona mesmo. O boi empacou e não queria nos deixar passar. Outro dia compramos ovos caipiras. Tudo é
fácil, honesto e perto. |
Camping Zé Roque - Joanópolis |
Nos dois últimos dias, quando o povo realmente chegou é que
pudemos ter noção da comunidade. Repare na cachoeira no fundo.Cada barraca! O povo é profissional.
Fiquei de olho nas churrasqueiras, nas barracas que você não precisa se agachar
para entrar (como a minha), nas que fazem ploft e brotam no ar, nas
carretinhas, nas Kombis adaptadas, enfim, foi muito interessante. Nós usamos o
tempo todo a cozinha comunitária, mas o pessoal raiz e equipado nem precisava.
Eram independentes. A gente chega lá.Um dia até me aventurei a assar linguiça. Quer saber? Foi muito bom sair da minha zona de conforto.
Voltei com os pés encardidos (só descobri em casa). Levei secador e maquiagem (pura bobagem). Voltei
em forma por que por lá qualquer atividade é uma função bem física. Você se
movimenta o tempo todo e não percebe. E o tal do ter que agachar para entrar na
barraca? Agora, meu sonho de consumo vai ser uma que de para entrar andando. No
final você respira melhor e dorme bem, mesmo que seja no chão mais
durinho. Já estamos de olho em outros
campings. Conhecemos um casal, por exemplo, que dorme no próprio carro e faz
trilha 4x4. Vimos um grupo de bike que viajou sem nada e ficou no chalé, tinha
casalzinho em barracas minúsculas (o amor é lindo) e vimos umas duas famílias montando
barraca depois das 11 da noite, num frio danado, para ficar um dia. Acho que
esse trem deve ser viciante, gente. Uma coisa que adorei é que tem pelo menos uns cinco
ambientes com fogão à lenha. Eles ficam acesos o tempo todo para aquecer uma
parte dos chuveiros (serpentina) e você pode aproveitar para cozinhar.
Vamos ver, espero que eu tome gosto por essa atividade já
que vai me dar oportunidade para conhecer várias cidades sem gastar muito.
A propósito, levamos duas horas para montar as duas barracas
e o mesmo tempo para desmontar, com pausas e muita calma nessa
hora. Sem stress.
Obrigada, minha amiga Lisbeth pela oportunidade dessa vivência!
Se não fosse por você teria assistido mais umas três séries coreanas nesses
cinco dias.
No próximo post conto sobre os passeios e a cidade de Joanópolis.
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