Num cenário rural e despretensioso, foi uma surpresa atrás da outra. As casas são tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Os moradores não podem alterar as fachadas, nem as cores. Eles têm plena consciência e orgulho do patrimônio histórico que possuem e algumas casas permitem visitas. Fui um dia com o Ronald Kreidel, turismólogo e guia de turismo da empresa Pomerode Jeep Tour. Gostei muito, ele conta muitos casos. Nada como passear com um guia local. |
Portal Wolfgang Weege, Pomerode |
O passeio começa pelo Portal Norte, uma réplica em tamanho natural do Portal de Stettin, que foi capital da Pomerânia entre 1720 e 1945 e que hoje pertence à Polônia. Há referências sobre a maçonaria neste portal mas eu não entendo disso.Ali já vimos duas casa emblemáticas. A Casa Haut vende produtos locais, raiz mesmo. Degustação de embutidos. Tudo de pequenos produtores das redondezas. |
Casa Strutz, Pomerode, SC. |
Em seguida paramos na Strutz Haus, de 1895. O casal, descendente dos imigrantes, estava lá. O Ronald explicou direitinho como seria um casamento naquela época. Muito interessante. Foi aí que fiquei sabendo sobre a Hochzeitskiste. Depois do casamento, depois que a foto ficou pronta, o noivo mesmo fazia a caixa onde ficava a foto, um pedaço da grinalda da noiva, um pouquinho das flores do buque da noiva e o mais importante, dois pequenos pedaços de papel onde cada um dizia ao outro o que esperava do casamento.Esse papel só era para ser lido após a morte de um deles. Nem sempre os noivos tinham dinheiro para chamar o fotógrafo, por isso algumas caixas não tem foto. Em nenhuma das que eu vi a caixa foi aberta pelos descendentes para ler os votos. Ai, fiquei tão curiosa! Eles temem que acabe destruindo a caixinha toda. |
Hochzeitskisten no Museu Pomerano. |
Eu vi outras três no Museu Pomerano. Existem somente umas seis ou sete na região pois tiveram que destruir tudo que os relacionasse à Alemanha numa certa época. O caminho é agradabilíssimo. Dá vontade de fazer a pé ou de bike.São várias casas. Na verdade, fora da Alemanha, é a maior concentração dessas casas no mundo.Essa é famosa pela crista no telhado. É de 1908 e não é aberta para visitação. Passamos em frente ao Clube de Caça e Tiro XV de Novembro, um dos quinze clubes de tiro da cidade. Contei sobre eles no post anterior. Gente, de carona é fogo. Não podia ficar pedindo para pararem. Fiquei na dúvida se passei por um ou dois cemitérios. O que causa curiosidade é que todas as lápides ficam de costas para a rua. Isso deve-se ao costume luterano de voltar as sepulturas para o Leste, de forma que os falecidos fiquem voltados para o Sol nascente, simbolizando o retorno de Jesus. |
Casa Lemke, Pomerode, SC. |
A Casa Lemke foi construída em 1875 e possui Tombamento Federal.O Rancho Lemke Restaurante foi construído no rancho, também tombado, preservando a construção original, mas todo o interior foi reformado. Dizem que é bonito e gostoso.Fui de carona conhecer a Fábrica de Chocolates Nugalli. Detalhe, não tem Uber em Pomerode, mas tem taxi e recomendo o meu novo amigo John que também é guia turístico autorizado.(47) 9969-8090. Ele me ajudou com dicas antes mesmo da minha chegada. @guiajohnpomerodeA Nugali Chocolates me impressionou com sua moderna instalação. Há inclusive uma estufa com pés de cacau.A estufa foi construída em 2018 usando a técnica construtiva milenar enxaimel. A visita é autoguiada. Tem degustação durante a visita. R$ 30,00 o ingresso. Adorei isso, existem várias caixas para sentirmos o aroma das coisas como avelãs, café, etc. No final, uma loja com os produtos, um melhor que o outro. Essa fábrica recebeu muitos prêmios internacionais, é toda sustentável, energia limpa e lixo zero.Em seguida fomos conhecer a Casa Radünz. Dona Iracema nos recebeu muito bem. Foi construída em 1932 e faz parte do conjunto de casas enxaimel da última geração pois tem varanda incorporada ao corpo da casa. Essa casa tem detalhes bem diferentes. Lá eu vi outra Hochzeitskiste. Também não tiveram coragem de abrir para ler os tais bilhetinhos.Olhem que interessante como era o cabideiro dentro do guarda-roupa antigo! Lá fora ela tem e usa um defumador. Eu achei que era uma "casinha". Lá tem um galpão que aluga para eventos. Belo lugar para uma cerimônia despojada de casamento.Ela tem um monte de bichos por lá, bois, cavalos, galinhas, gansos, perus, patos, etc. Não sei como eles dão conta de manter um lugar assim com tanta criação e com um jardim impecável. É muito trabalho. A visita custou R$15,00. Degustamos queijos e licores e comprei lá um salame artesanal maravilhoso.
A seguir visitamos a Casa Siewert. A Família Siewert chegou ao Brasil em 1868. Saíram pelo porto de Hamburg dois meses antes. A casa foi construída em 1913 e atualmente moram três gerações da família: a quarta, quinta e sexta no Brasil. Quem nos guiou foi a Julia, a última geração da família. Aqui ela nos mostrando seu tatata...vô que teve 12 filhos e como a família foi diminuindo. Agora só tem ela e o irmão. Os avós, bem velhinhos, ainda moram nessa casa e os vi cuidando dos porcos. Eles também têm todo tipo de criação e plantam café e milho.Construíram uma réplica da casa provisória que faziam logo que chegavam ao Brasil. Usavam tudo do palmito. A casa provisória não tinha janela. Nesta aí moravam sete pessoas. Gente, é do tamanho que era antes! De noite, às vezes ficavam no escuro quando acabava o óleo de baleia para acender as lamparinas. O cheiro do óleo era insuportável. Às vezes usavam também vela de sebo. Levava um tempo até plantarem para sobreviver e até construírem a casa definitiva. Faziam mutirões. Não havia dinheiro circulando, era tudo na base da troca. Eles vendem alguns produtos coloniais e também custou R$ 15,00, contudo, nesta casa a visita é só na parte externa. Ronald também mencionou os palmitos. Foi um alimento essencial para os imigrantes quando chegaram. Era o que tinha disponível. Também aprenderam a comer e curtir a mandioca. Não deu tempo de visitar a Baumann Conservas. Está anotado para a próxima visita. Depois de ver in loco essas coisas, saber as dificuldades pelas quais esses imigrantes passaram, como foram seduzidos pelo nosso governo que prometeu mundos e fundos para eles, me senti envergonhada. Para completar, vejam bem, eles chegaram em 1824 e quando houve a segunda guerra mundial eles foram perseguidos, no Brasil. Acredite se quiser. Teve até campos de concentração no Brasil. Pesquise! Na época eles nem sabiam o que estava acontecendo. Foram obrigados a se esconder, livros em alemão foram queimados. Eles tinham que se fingir de mortos. Não podiam nem falar alemão. As velhinhas alemãs que não falavam português tinham medo de sair de casa.
Outros estrangeiros também sofreram bullying mas foi pior com os alemães. Eu não sabia de nada disso. Como sempre, morri de vergonha por desconhecer a história. Daí chego em casa, pesquiso e confirmo. É verdade. Eles ficaram sentidos mesmo. Praticamente fizeram o Estado de Santa Catarina na picada, na fé, no machado, contando com as promessas do nosso governo que os decepcionou. Foram grandes desbravadores, corajosos, se adaptaram, e depois de muitos anos de luta puderam empreender, estabeleceram empresas sólidas que perduram até hoje. Parabéns para esses imigrantes! Nosso país é grande e precisa de gente trabalhadora assim. Sejam bem vindos, vocês e quaisquer outros que queiram nos tornar melhores!Para ler sobre os passeios dentro da cidade de Pomerode, clique AQUI. E já que você está pertinho de Blumenau, veja os posts que fiz sobre onde comer por lá, o que visitar e onde ficar. Clique AQUI para Blumenau.
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