Aeroporto de Orlando, FL |
-Então, menina, vocês estão de mudança? O povo está vindo para cá e vocês voltando para o Brasil!
-Não, é a Disney. Já viu né? Está vendo aquela ali? E apontou para a filha de uns cinco anos. Daí vi também o filho um pouco mais velho, e o marido.
-Pois é, essa tiara da Minnie que ela está usando, ela deve ter umas doze parecidas. Sabe aquelas mochilas pequenas? Ela tem todas.
- Aquelas de 90 dólares? Não tive coragem de comprar pro meu neto. São lindas mesmo.
-Ah, quando ela quer....
- Mas, é a primeira vez dela na Disney?
-Não, é a terceira vez. E todas as vezes é assim.
- Mas, e você paga excesso de peso? Como funciona ?
-Não, ontem eu paguei pelas malas pelo site.
Gente, é caro. Qualquer bagagem hoje custa. Eu troquei olhares com a mãe do começo. Ela entendeu minha perplexidade. Eu pensei, não julgue, Dona Virginia, não julgue. Isso é inveja. Passei o dia anterior tentando fazer minhas compras caberem numa única mala de 23 quilos. Me diverti com minha neta "criada no Canadá" indo a brechós na Flórida. Minha roupa inteira, aliás, era de brechó num total de vinte dólares. Juro pelas minhas netas. Daí vem a outra com onze malas de 32 quilos? Pura inveja! Controle-se! E eu que tinha acabado de comentar com o casal "normal" que estava na fila que não via a hora de despachar a mala pois não queria pagar seis dólares por um carrinho de malas do aeroporto. Passou tanta coisa na minha cabeça. A primeira foi: Como você (eu) é pobre! Esse é o mundo dos ricos. Fica na sua. A segunda foi: se eu fosse rica, eu faria isso? Com certeza não. Pense a mão de obra na própria Disney de andar com tantas sacolas e depois chegar ao quarto e ter que comprar novas malas e colocar tudo e depois ter que alugar uma van pra levar tudo isso? Deus me livre! Que função! E que raios de filha é essa que tem que comprar tudo que gosta? Que tipo de adulta estão formando? Será que eles são milionários? Não tinham jeito de milionários. Pareciam "normais", simpáticos, inclusive, voaram na mesma classe que eu, a segundona. E o casal low-profile que estava lá primeiro, era Diamante. Ou seja, entraram primeiro e tinham assentos melhores.
Quando a moça das onze malas se afastou eu troquei uma ideia com a que estava lá primeiro. Ela comentou :
- Nós fizemos uma acordo com nosso filho. O que vamos levar é a experiência. Fomos a todos os parques, inclusive em Tampa. Não economizamos com as entradas, mas nada de priorizar compras. Ele só comprou um tal joguinho.
Então, não estou louca, pensei. Mas, gente, eu não sei a história toda da moça das onze malas. Vai que a menina acabou de sair de uma série de quimios? Eu faria a mesma coisa. Vai que o casal está se separando e essa é a última e derradeira tentativa? Aff! Ela falou tudo com tanta naturalidade. Não era esnobe. E eu, muito pé no chão, fiquei pensando em como seria chegar em casa com tantas malas. Esse povo deve ter muito dinheiro, muita ajuda, não é normal. E eu conheço gente rica e eles não fazem isso.
Magic Kingdom |
Deus ajude essas mães que não sabem dizer não! Na melhor das boas intenções, essa mãe está criando seus dois filhos fora da realidade. Olhem só o Brasil que estamos enfrentando neste momento! Hellôôu! Um mar de incertezas muito sérias. Amadureçam, pais! Mostrem aos seus filhos os valores que são perenes, inalteráveis, o certo, o errado, o excesso, o importante, a cegueira, o radicalismo, a alienação, contem-lhes a história, contem casos dos seus antepassados, o que passaram. Todos nós temos histórias que mostram o que estamos passando agora. Acordem!
Eu também quero viver num mundo como na Disney. Voltei lá depois de trinta anos. Nem quero ser princesa mais, hehe.Celebration, FL |
PS: Tá, eu achei oportuno alugar uma cadeira elétrica para o dia que passei lá. Não foi uma fortuna. Acho que no final foi 50 dólares. Valeu por não estragar o dia de todo mundo reclamando de dor nas pernas ou por andar mais devagar. Não se pode dar carona, oficialmente, mas minha netinha mais nova aproveitou em alguns momentos e o pessoal finge que não vê. E eu não paguei mico de vovó capenga, ainda.
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