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A moça das onze malas de 32 quilos

 

Aeroporto de Orlando, FL
De volta para o Brasil, no aeroporto de Orlando, cheguei cedo e já havia uma família aguardando o despacho das malas. Ao lado desse casal com um menino de uns doze anos, havia muitas malas. Nem prestei atenção, não pensei nada. Como uma brasileira raiz, já puxei prosa com o casal e tal. Passou um tempinho, chegou a dona das malas. Eu juro, onze malas daquelas maiores (32 quilos) , fora algumas de mão. Eu, de cara, entendi que eles estavam de mudança, pois minha filha recentemente se mudou do Canadá para os EUA e vendeu TUDO. Chegaram à Flórida com 8 malas. Começaram novamente do zero, sem um escorredor de macarrão. Não é fácil. Tem que ter muita coragem e desapego. Enfim, conversa vai, conversa vem, vou colocar aqui algumas frases do meu diálogo com a dona das onze malas. 

-Então, menina, vocês estão de mudança? O povo está vindo para cá e vocês voltando para o Brasil!

-Não, é a Disney. Já viu né? Está vendo aquela ali? E apontou para a filha de uns cinco anos. Daí vi também o filho um pouco mais velho, e o marido. 

-Pois é, essa tiara da Minnie que ela está usando, ela deve ter umas doze parecidas. Sabe aquelas mochilas pequenas? Ela tem todas.

- Aquelas de 90 dólares? Não tive coragem de comprar pro meu neto. São lindas mesmo. 

-Ah, quando ela quer....

- Mas, é a primeira vez dela na Disney? 

-Não, é a terceira vez. E todas as vezes é assim. 

- Mas, e você paga excesso de peso? Como funciona ?

-Não, ontem eu paguei pelas malas pelo site. 

Gente, é caro. Qualquer bagagem hoje custa. Eu troquei olhares com a mãe do começo. Ela entendeu minha perplexidade. Eu pensei, não julgue, Dona Virginia, não julgue. Isso é inveja. Passei o dia anterior tentando fazer minhas compras caberem numa única mala de 23 quilos. Me diverti com minha neta "criada no Canadá"  indo a brechós na Flórida. Minha roupa inteira, aliás, era de brechó num total de vinte dólares. Juro pelas minhas netas. Daí vem a outra com onze malas de 32 quilos? Pura inveja! Controle-se! E eu que tinha acabado de comentar com o casal "normal" que estava na fila que não via a hora de despachar a mala pois não queria pagar seis dólares por um carrinho de malas do aeroporto. Passou tanta coisa na minha cabeça. A primeira foi: Como você (eu) é pobre! Esse é o mundo dos ricos. Fica na sua. A segunda foi: se eu fosse rica, eu faria isso? Com certeza não. Pense a mão de obra na própria Disney de andar com tantas sacolas e depois chegar ao quarto e ter que comprar novas malas e colocar tudo e depois ter que alugar uma van pra levar tudo isso? Deus me livre! Que função! E que raios de filha é essa que tem que comprar tudo que gosta? Que tipo de adulta estão formando? Será que eles são milionários? Não tinham jeito de milionários. Pareciam "normais", simpáticos, inclusive, voaram na mesma classe que eu, a segundona. E o casal low-profile que estava lá primeiro, era Diamante. Ou seja, entraram primeiro e tinham assentos melhores.

Quando a moça das onze malas se afastou eu troquei uma ideia com a que estava lá primeiro. Ela comentou :

- Nós fizemos uma acordo com nosso filho. O que vamos levar é a experiência. Fomos a todos os parques, inclusive em  Tampa. Não economizamos com as entradas, mas nada de priorizar compras. Ele só comprou um tal joguinho. 

Então, não estou louca, pensei. Mas, gente, eu não sei a história toda da moça das onze malas. Vai que a menina acabou de sair de uma série de quimios? Eu faria a mesma coisa. Vai que o casal está se separando e essa é a última e derradeira tentativa? Aff! Ela falou tudo com tanta naturalidade. Não era esnobe. E eu, muito pé no chão, fiquei pensando em como seria chegar em casa com tantas malas. Esse povo deve ter muito dinheiro, muita ajuda, não é normal. E eu conheço gente rica e eles não fazem isso.

Magic Kingdom
Acho "fora de moda" essa compulsão. A gente tem acesso a tudo no Brasil. Alguém ajude essa mãe a segurar essa menina, gente! As pessoas verdadeiramente ricas (jovens) que eu conheço, viajam com mala de mão. Acreditem. Já os mais velhos, não tem acordo, aí eu me enquadro, a gente carrega necessaires para remédios e alguns sentem mais frio, etc, mas nada que ultrapasse 32 quilos. 

Deus ajude essas mães que não sabem dizer não! Na melhor das boas intenções, essa mãe está criando seus dois filhos fora da realidade. Olhem só o Brasil que estamos enfrentando neste momento! Hellôôu! Um mar de incertezas muito sérias. Amadureçam, pais! Mostrem aos seus filhos os valores que são perenes, inalteráveis, o certo, o errado, o excesso, o importante, a cegueira, o radicalismo, a alienação, contem-lhes a história, contem casos dos seus antepassados, o que passaram. Todos nós temos histórias que mostram o que estamos passando agora. Acordem!

Eu também quero viver num mundo como na Disney. Voltei lá depois de trinta anos. Nem quero ser princesa mais, hehe.
Celebration, FL
E o danado daquele mundo continua lindo. Só que é lá, não aqui onde eu vivo e não tenho intenção de abandonar. Que Deus nos abençoe! Esse evento das onze malas foi real. Pena que o buraco é bem mais embaixo. Não sei a história da mãe da menina, não sei nada além do que contei para vocês, mas me deu o que pensar. De boa, o que vocês acham sobre isso? Fui preconceituosa? Aliás, não se exasperem, os comentários não aparecem no blog no momento em que vocês os fazem. Só aparecem depois que eu os leio. E eu adoro quando comentam. Não desistam! Obrigada. 

PS: Tá, eu achei oportuno alugar uma cadeira elétrica para o dia que passei lá. Não foi uma fortuna. Acho que no final foi 50 dólares. Valeu por não estragar o dia de todo mundo reclamando de dor nas pernas ou por andar mais devagar. Não se pode dar carona, oficialmente, mas minha netinha mais nova aproveitou em alguns momentos e o pessoal finge que não vê. E eu não paguei mico de vovó capenga, ainda. 

Comentários

Lis Vissotto disse…
Excesso de consumo gera excesso de lixo no planeta! Isso está fora de moda, é cafona demais! Rico de nascença não se deslumbra,valoriza peças de boa qualidade e durabilidade. Talvez essa moça queira dar pra filha tudo que não teve na infância hoje estando numa situação financeira melhor mas infelizmente não aprendeu a ter discernimento. Jamais teria inveja de uma pessoa " sem noção" como ela, sentiria talvez pena da criança que vai sofrer as consequências deste tipo de criação. Talvez, no futuro quando esta criança ouvir os muitos "nãos" que a vida dá ela tenha sérios problemas de insatisfação pessoal ou insubordinação.Eu tenho pena mesmo é do planeta!

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