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Lima - Restaurantes e Comidas Típicas Peruanas

Imaginem só que em Lima há três restaurantes que estão entre os 50 Melhores Restaurantes do Mundo e mais uns tantos que estão entre os melhores da América Latina. Se tem uma coisa que os peruanos sabem fazer bem é cozinhar. O número dois desta lista é o Central. Eu havia assistido a um episódio do Chef's Table sobre o Virgilio Martínez no Netflix ( Temporada 3, episódio 6) e fiquei impressionada com o trabalho dele. É um visionário, excêntrico em sua simplicidade. Pensem numa comida raiz e lindamente apresentada. E não é que eu o vi na rua em Barranco e conversei com ele? Fiquei tão nervosa que fiz, em português mesmo, mil elogios. Ele foi simpático, mas não ao ponto de me dar liberdade para tirar alguma foto. Atualizando em 21 de junho, o Central foi eleito o melhor do mundo!
Restaurante Maido, Lima
O restaurante que ficou em nono lugar é o Maido, outro maravilhoso, só que na linha nikkei, a fusão peruana com o Japão. 
Só tirei uma foto da fachada. Em 32o lugar está o Mayta. Não são refeições comuns, os menus de degustação são descritos como uma experiência de vida mesmo. O que fazem é obra de arte. E ainda tem o Chef Gastón Acurio que foi quem divulgou a comida peruana para o mundo. Ele hoje tem 48 restaurantes em 12 países. Pensem num homem empreendedor! O Virgílio trabalhou com ele em Barcelona por quatro anos antes de tomar seu caminho. Gastón Acurio tem um restaurante que é o mais chique, o Astrid & Gastón e diversos outros que de alguma forma ele conseguiu popularizar e são mais acessíveis. Este último está no 30o lugar dos 50 melhores da América Latina. Estive em alguns, mas não naqueles top três que mencionei antes. O Tanta tem várias unidades em Lima, inclusive no aeroporto. As fotos abaixo são da unidade de Miraflores.

Fui um dia pegar umas empanadas, maravilhosas. Outro dia fui para jantar. Lá servem a linha completa das sobremesas da Astrid Gutsche, mulher do Gastón. 
Tem um salão bonito, mas o restante é normal.
Pedi um saltado de camarão e cogumelos com tacu-tacu. Aproveitei para provar a cerveja Cusqueña. Aprendi que tudo que é saltado é bom, significa que foi feito no fogo rápido na wok e flambado com pisco + shoyo e + um monte de coisas que estou descobrindo aos poucos. O tal tacu-tacu que eu estava curiosa para experimentar não passa de um mexidinho de arroz com feijão mais grudadinho. Bom também.
Esse aí é o tiradito. São lâminas de peixe cru geralmente com molho de ají amarillo
Ají amarillo
É a pimenta favorita por lá, a dedo de moça deles, só que mais saborosa.
Madame Tusan, Lima
Outro restaurante do Gastón que fui é bem diferente, o MadameTusan. É bem chifa. Fui de tarde, só para beliscar e adorei. Chifa é o nome dado à comida peruana com toques chineses. Os primeiros chineses chegaram ao Peru há uns 174 anos. Vieram para substituir a mão de obra dos escravos negros que foram libertados para trabalhar nas plantações em fazendas costeiras. Daí, como não encontravam no Peru os ingredientes aos quais estavam acostumados foram agregando os ingredientes disponíveis no Peru. Foi um casamento perfeito. 
Pedi um hakao verde com recheio de camarão e huacatay que é um tipo de hortelã andina que eles consideram curativa. Foi o melhor da minha vida. Os três molhinhos: chinês, peruano e Hoisin, também chinês.
Esse outro bolinho encamotado veio com um molho suave, meio adocicado, perfeito.
O Madame Tusan tem seis unidades em Lima. 
Também do Gastón, o Panchita faz uma releitura da comida criolla no melhor estilo fazenda de antigamente. Servem os pratos bem tradicionais como o cuy ( o porquinho-da-índia), vísceras na chapa, assam os pães no enorme forno, trio de humitas, enfim, rural no melhor estilo influenciado pelos escravos que viveram no período colonial em Lima.
O ambiente é bem grande e animado.
Na frente, alguns molhos com as pimentas rocoto e ají amarillo.
Panchita, Lima. Anticucho.
Pedi o anticucho, um espeto de coração de boi. Na rua vendem, mas ficaria sem coragem. O  problema foi o tamanho do prato. Reparem no tamanho dos grãos do milho branco! Gostei, mas não repetiria. Isso que parece um inocente vinagrete é pimenta rocoto, a vermelha. Ardidíssima. 
Em tempos pré-hispânicos os anticuchos eram feitos com alpaca ou lhama na região dos Andes incluindo Bolívia, Chile e Argentina. A carne era temperada com ervas e pimenta e assada na brasa. A partir de 1500, com a chegada dos espanhóis e com eles, o gado, o alho e mãos de escravos africanos, para quem as vísceras eram destinadas, o prato se modificou. 
Restaurante Panchita, Lima
Esse detalhe na decoração é uma referência, imagino, aos quipus que foram utilizados pelos incas como sistema de escrita, para registro de histórias e cantos em língua quéchua, e também de contagem, tanto de rebanhos quanto de pessoas.
Mais um do Gastón, o La Mar. Fachada bem discreta.Tinha umas 12 pessoas na fila antes de abrir, no maior sol.
Logo o salão ficou lotado. Tem que reservar. É que eu fui bem cedo.
Restaurante La Mar, Lima.
O ambiente é bem bonito. Tudo muito fresco.
Pedi um ceviche de conchas negras e mariscos, mas achei que veio muita cebola. Geralmente o ceviche lá é bem mais ácido. No meu vai azeite e sinto falta. Talvez isso seja um sacrilégio. 
Deveria ter pedido o tradicional. O autêntico sempre vem assim com pequenos pedaços de palta ( abacate), maíz blanco ( esses grão de milho branco enormes), cebola roxa crua e algumas fatias dessa papa amarilla (batata alaranjada) bem adocicada e o leche de tigre, claro, o caldo de peixes. 
Adorei as entradinhas. Chifles é o nome dado aos platanos (bananas) verdes fritos. O milho tostado é o primeiro que chega à mesa: canchitas.
Experimentei a Inca Kola. Estava com receio por causa da cor meio fluorescente. Peruano não dá a mínima para a Coca Cola, desde criança. É uma unanimidade. Eu gostei, bem melhor do que esperava.
O ceviche não matou minha fome e arrematei com um pequeno choripan que estava delicioso.
Causa relleña
Outro prato, talvez o segundo mais popular em Lima, é a Causa Relle
ña ou Causa LimeñaSua origem remete à era pré-colombiana e no antigo Peru esta receita era preparada com batata amarela (papa amarilla) prensada com pimenta picada (ají amarillo). A massa de batata amarela é temperada com limão e pimenta e os recheios variam: atum, frango, frutos do mar ou camarão.
Causa relleña no Bar Cordano, Lima, Peru
Os formatos também mudam, mas sempre colocam ovo cozido, azeitonas pretas e  abacate. 
Até vi esse pronto, como rocambole no supermercado. Embora haja indícios de que houve versões da causa durante a época inca, as hipóteses sobre a origem do nome remontam à época em que o libertador José de San Martín chegou às terras peruanas. Nas esquinas de Lima, este prato era vendido para ajudar nos gastos militares, por isso foi dito que ajudava “a causa” da Independência. Foi assim que ele ganhou o nome de “causa”. Há também uma teoria de que foi um prato patriótico durante a Guerra do Pacífico, em que o prato também foi vendido para apoiar o exército peruano. É bom demais, gente. A causa não tem erro. Provei várias e vou tentar fazer em casa. 
Estive no Punto Azul duas vezes, para almoço e jantar. Era pertinho do hotel e foi muito bem indicado.
Tem coisa melhor que começar uma refeição assim?
O lugar é simpático.
Restaurante Punto Azul, Lima, Peru.
Esse prato estava bom, mas chegou um pouco frio à mesa.
O melhor foi essa causa de polvo que veio picadinho no recheio. Perfeita. Dava para sentir o toque de limão na massa da batata.
Esse prato de polvo eu tirei foto do vizinho, ele estava animado, mas não comeu tudo. Dizem que o arroz de pato de lá é bom.
Li demais sobre El Bodegón de Miraflores. É antigão e fui para comer a famosa causa de cangrejo. Como brasileira, não acreditei na reserva antecipada e também não queria ficar com compromissos, enfim, tinha uma espera de 45 minutos do lado de fora, no sol. Desisti.
El Bodegón de Miraflores, Lima.
Ele é pequeno mesmo. Sai um, entra outro. Fica pertinho do Huaca Pucllana.
Selectos Ibéricos, Lima, Peru.
Quando vi o Selectos Ibéricos, Abacería espag
ñola, achei que estava no céu. Estava sem fome, voltando a pé da orgia de doces da Praça Kennedy. Achei muito aconchegante o lugar.
Fiz questão de levar um sanduíche para comer no hotel. Pão maravilhoso e presunto mais ainda, com um fio de azeite delicioso. Fica num calçadão no centro.
Bom para sentar e pedir as tábuas de frios e queijos tomando vinho.
O La Lucha Sanguchería Criolla é o fast food peruano. Tem por todo lado e é bom.
Foi lá que resolvi provar o suco favorito nacional, a chicha morada. Sabia que a qualidade dali seria ótima. É uma bebida originária das regiões andinas do Peru.
É um suco do milho culli ou ckolli, uma variedade do maíz morado, aquele milho roxo. Há variações, mais ou menos doces, com casca de laranja ou outras frutas e toques de canela. Sinceramente, sabia que era saudável, mas não achei graça.
La Lucha Sangucheria Criolla, aeroporto de Lima.
Só comi um dos sanduíches e gostei sim, principalmente do pão e achei bem leve.
Pasteleria Panaderia San Antonio. Bem em frente ao hotel e tem o maior movimento. Tem tudo de tradicional peruano desde 1959. 
Empanadas.
Humitas e tamales.
Este último, por ser grande, não cheguei a provar.
O famoso turrón que eu ouvi falar. Depois conto quando for falar dos doces.
E daí comi o melhor de tudo, o pastel de choclo com carne.
Pasteleria Panaderia San Antonio, pastel de choclo. O melhor!
É um bolo salgado de massa de milho de verdade com recheio de carne em pedacinhos, cebola, ovo, azeitonas verdes e passas, molhadinho o recheio.
Não sei mais nada, só sei que foi meu segundo prato favorito. Excelente essa padaria.
Pastel de choclo do Tanta, Lima
Cheguei a comer um outro pastel de choclo do Tanta do aeroporto mas não chegou aos pés do da Panaderia San Antonio. 
Chifa Vietnam, esse também foi muito indicado como bom, porções fartas e barato.
Chifa Vietnam, Barranco, Lima
A fachada é feinha e por dentro é pouca coisa melhor. A comida, porém, é muito especial.
Arroz chaufa
Fui para provar o arroz chaufa.
Lembram daquele casamento que falei que deu certo? Pois é. O molho de soja de verdade, nunca vi tão bom e o molho de ají amarillo. Que sejam felizes para sempre. Arroz frito maravilhoso, cheiroso, com camarões, feito no fogo forte. Este vídeo aqui explica muito bem a história da imigração chinesa.
Foto do prato da vizinha. Fica em Barranco, no início. Sobrou comida de novo. É a parte chata de viajar sozinha.
Isolina Taberna Peruana. Este tem que reservar mesmo. Fica em Barranco, numa esquina bem barulhenta. Servem comida típica das melhores.
Experimentei o tiradito, aquele das fatias finas de peixe cru com molho azedinho por cima.
Eu adorei, mas essa história de ceviche e tiradito me deixa com fome em meia hora.
Isolina Taberna Peruana, Lima, Peru.
Tem ambiente em cima e embaixo. Apesar do movimento, gostei mais de ficar no térreo. Ali perto ficam vários restaurantes e bares bons.
Neste dia provei o chilcano clásico ( pisco, suco de limão, angostura e ginger ale). É refrescante, mas ainda gostei mais do pisco sour. Detalhe, eles raramente colocam faca na mesa.
Bar e Restaurante Cordano. Este é uma instituição peruana, fundado em 1905.
Fica pertinho do Palácio do Governo, conclusão, já foi frequentado por praticamente todos os presidentes do Peru.
Famoso pelo tacu-tacu, mas tem que estar com fome e também pelo butifarra (sanduíche).
Tem todo aquele clima de época, com piso antigo, armários de madeira escura. Gostei muito, principalmente sabendo da história.
Originalmente era um bazar fundado por dois irmãos imigrantes italianos. Em 1978, por causa da crise, os irmãos venderam o local para um consórcio de 18 garçons. Muita gente famosa também passou por lá como Mario Vargas Llosa, Mario Testino, entre outros.
Eu comi outra causa com suco de abacaxi. Só na pesquisa, hehe. 
Museo Larco Café-Restaurant. Noutro post falarei sobre o museu. Lá tem um restaurante dentro de um jardim maravilhoso.
Museo Larco Café-Restaurant, Lima.
O local é lindo.
O restaurante se integra ao jardim. 
Comi o prato campeão da viagem, um sanduíche de lomo saltado. Sabe quando tudo é perfeito? Até a batata frita estava maravilhosa. O sabor da carne estava incrível. Esse lomo saltado é um prato que vou tentar em casa, vou assistir vídeos para aprender. É o sabor que eu gosto, tem um toque de molho de ostras, de shoyo, de adocicado, de flambado. Louvado seja Deus! Já falei demais, mas acho que agora entendem a minha felicidade por ter tido a oportunidade de conhecer Lima. Pesquisei os passeios e comidinhas por seis meses, mesmo assim me senti perdida com o espanhol nos cardápios. Mais posts virão por aí!



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