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Campo Grande – Curiosidades e atrações

De um modo geral não gosto de voltar ao passado e aos lugares onde morei. Campo Grande é uma exceção provavelmente por que me lembra muito pouco como era antes. A cidade floresceu de tal forma que está irreconhecível.
De cara dá para perceber que o aeroporto tem passado por reformas.
Aeroporto de Campo Grande, MS. Escultura de Tuiuiú
Continua, porém, com poucos bancos e área de descanso para quem tem que esperar muitas horas e não é V.I.P. como eu.
Outro lugar que melhorou foi o Mercado Municipal que é de 1959. Deram uma melhorada no sistema de ventilação e ficou mais fresquinho. Reformaram também o telhado e piso.
Erva de tereré no Mercado Municipal de Campo Grande, MS
Quem passeia por lá já tem uma ideia bem clara do que o povo de lá aprecia. Começamos pelo tereré. É uma mania em todo o Estado. Também tem tudo que é preciso para se fazer um autêntico tereré: a erva-mate, as guampas e bombas.
Guampa de tereré
O tereré é uma versão do chimarrão gaúcho só que com algumas diferenças fundamentais. A constituição da erva do tereré é de 50% de folhas e 50% de galhos (finos) da sua árvore, enquanto a do chimarrão é de 70% de folhas e 30% de galhos (muito finos). É tomado com água gelada e a erva é menos processada, menos moída e, portanto, a bomba tem buracos maiores do que a do sul. Ele é servido na guampa, que é o chifre do boi cortado. O tereré é passado de mão em mão em todas as classes sociais e o ritual é levado muito a sério. Por tradição, em uma roda de tereré, deve-se servir o tereré em sentido anti-horário, devido ao movimento feito pelos laçadores. Alguns Mandamentos. Não mexer na bomba. Não colocar açúcar.
Não dizer que é anti-higiênico. Não deixar um tereré pela metade. Tomar até escutar o “ronco” no final. Jamais chamar a guampa de cuia. Não alterar a ordem em que o tereré é servido. Não demorar com a guampa na mão. Uma corrente diz que esses peões (pantaneiros) tomam o tereré porque a água do pantanal e imediações é salobra e com a erva esse gosto é amenizado.
O pessoal vai ao Mercadão para comer geleia de mocotó, comprar carne seca, fumo de rolo,
a deliciosa linguiça de Maracaju, tomar suco de guaraná natural e saborear pastéis bem diferentes.
Reparem nos sabores: Carne seca com mandioca, avestruz com queijo, pastel de jacaré, pacu com queijo, carne seca com banana e ainda servem sarravulho.
Achei uma fortuna os preços, mas onde mais você conseguiria provar sabores tão diferentes? A maioria dos comerciantes é descendente de japoneses.
Lá tem tudo para suprir as necessidades básicas de um peão: berrantes, botinas, facas de todos os tipos e tamanhos.
Agora há uma lojinha de artesanato que adorei.
Eu jurei que não compraria mais souvenirs.
Eu me comportei, mas queria um bichinho de cada, mais as canecas.
E também um leque desses. 
Outros produtos deliciosos. 

Na frente do Mercadão fica a Feira Indígena. É onde as índias terena vendem produtos trazidos de sua tribo, na verdade, ouvi que elas andam comprando para revender: mandioca, milho verde, feijão verde, guavira (quando é época), pequi, sagu, urucum e guariroba, que é um palmito mais amargo, diferente do da Mata Atlântica.
Polpa seca de bacuri
Reparei desta vez um nítido descaso no atendimento. Nem me olhavam na cara e mal respondiam o que perguntava.
Com muito custo consegui entender sobre o bacuri e sua polpa usada na região para engrossar caldos ou fazer um tipo de angu. Teria comprado se tivessem tido mais boa vontade em explicar.
Lá perto do Mercadão tem a famosa Esfiha do Tomaz.
Ele faleceu há pouco tempo e conhecia todo mundo.
As esfihas, sempre quentinhas, são boas e baratas.
Agora tem nas bandejas congeladas para levar e também os molhos que eles produzem são ótimos. O sistema de cobrança é curioso, na base da confiança e não tem comandas.
Na hora de pagar você diz o que consumiu e pronto. Se não me engano, não aceitam cartão de crédito. 
A Paróquia do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é das construções que viram a cidade crescer. Parte das paredes foi construída em 1939, quando a Europa entrava em guerra e agora integram conjunto arquitetônico do Santuário, o mais novo patrimônio histórico do município. Em 1999, a Igreja foi “elevada” a Santuário, que só ocorre quando há apreço pelas relíquias do espaço - normalmente o padroeiro de uma cidade ou Estado – e pela aglomeração de devotos. Em 2017, tornou-se “Padroeira” de Mato Grosso do Sul ou seja, Santuário Estadual. Faz parte das nossas vidas. No dia da Novena semanal, fica lotada. 
Campo Grande, MS
Campo Grande foi fundada há mais de 100 anos. Primeiro chegaram os colonizadores descendentes de portugueses, de Minas Gerais. Depois, no início do século, vieram os imigrantes de outros países começando com os libaneses, armênios e japoneses. Mais recentemente, na década de 70, os gaúchos, catarinenses e paranaenses.
Residência com campo de golfe
A cidade hoje está linda e praticamente irreconhecível com diversos condomínios novos.
As casas são belíssimas. Há condomínios com campo de golfe, aulas de arco e flecha, carros elétricos por todo lado, muitas quadras e lagos.
Há ruas repletas de lojas muito chiques, cafés charmosos e bares lindos. Há do bom e do melhor.
La Parisienne Boulangerie & Patisserie. 
Essa padaria é um exemplo.
Com carinha de França e sabores perfeitos. Fica sempre cheia.
Sésamo Gelato e Café, Campo Grande, MS.
Também essa gelateria deliciosa com produtos naturais nacionais e importados.
O casal começou a produção literalmente no fundo do quintal e foi crescendo.
A  Sésamo hoje tem oito lojas, algumas em outros estados.
Apesar de conhecida como a cidade dos ipês, que dão um show de cores nas ruas, são as araras que roubam a cena todos os dias.
Araras em Campo Grande, MS
Essas aves MORAM na cidade! Isso por causa de gente muito especial envolvida nessa luta e que está plantando mais de 60 espécies de árvores nativas. No fim de tarde e de manhã é uma beleza.
Artesanato de Campo Grande, MS
Outro motivo é que a cidade é muito arborizada e com reservas que contêm árvores frutíferas.
Há muitas frutas também nos quintais das casas. Há muitas mangueiras e grande variedade de frutas que acabaram trazendo os pássaros de volta para a cidade. Neste link AQUI tem uma matéria muito boa sobre as araras de lá. 
No fundo, embora moderna, Campo Grande ainda tem um restinho da sua essência, digamos, fazendeira. Hoje está bem voltada para a agricultura, mais precisamente para o plantio da soja. O pessoal do Sul do Brasil chegou com tudo e veio para ficar. Com eles vieram suas tradições também. A chegada desse pessoal trabalhador trouxe muito dinheiro para a região e mudou muita coisa, desde a comida, a música e a beira da estrada, como digo.

Onde eu via pastos com gado, hoje vejo horas de plantações. Na noite, quando se ouvia guarânias e polcas paraguaias, ouve-se vanerão e xote.
Gosto dessas músicas também, mas me bateu uma saudade danada das serenatas em guarani com harpa.
Campo Grande chama a atenção pelas ruas largas e para onde se olha dá para ver o horizonte. O céu parece que é maior. Com esse céu todo, muita gente de lá jura ter visto O.V.N.Is . A Revista UFO, uma das mais antigas do gênero no mundo, é publicada em Campo Grande. O fundador, Gevaerd, foi meu aluno de alemão. Imaginem que papo ótimo ele tem! Hoje só tem a edição digital, mas enfim, nos anos oitenta, no estádio Pedro Pedrossian (Morenão), durante um jogo noturno, jogadores, jornalistas e a torcida foram surpreendidos por uma roda de fogo que pairava sobre o estádio soltando um intenso facho de luz. O objeto voador não identificado evoluiu no céu e desapareceu segundos depois. Embora nenhuma câmera tivesse conseguido registrar a cena, todos os presentes ficaram muito impressionados. O mistério ficou até hoje sem explicação. Naquela noite, 24.575 pessoas que assistiam ao jogo viram o OVNI se tratando assim de um recorde mundial de testemunhas para a aparição de um objeto anômalo no céu. 
Um programa muito gostoso é ir de noite à Feira Central pra comer soba, prato já esquecido na sua própria origem, a ilha de Okinawa, e preservado aqui.
Soba, prato típico de Campo Grande, MS
É servido numa tigela e coloca-se primeiro o macarrão feito à base de trigo sarraceno, depois ovo tipo omelete em tirinhas, cebolinha picada, pedaços de carne de porco cozida e frita em cima e, por último, o caldo especial de carne bovina, suína e frango com temperos. Tem também o caldo de piranha, o pacu, o dourado... uma infinidade de delícias. 
Feira Central, Campo Grande, MS
A feira noturna antigamente era na rua e agora fica na esplanada da ferrovia. Todos os 248 feirantes participaram do projeto. Eu preferia a feira noturna antiga, muito mais divertida com mesas com bancos longos e todos comiam juntos. Era programa para depois da balada. O município conta com uma das mais expressivas comunidades de imigrantes japoneses originários da ilha de Okinawa. Desembarcaram na cidade para integrar a construção da estrada de ferro no noroeste do Brasil. A fama do soba é tanta que o prato recebeu em sua homenagem uma escultura gigante, de 4,5 metros de altura, bem na porta da Feira Central da cidade. Existem várias sobarias na cidade e cada campo-grandense tem uma pra chamar de sua favorita. 
Casa do Artesão em Campo Grande, MS
A Cidade Morena (por causa da cor de sua terra) tem uma forte relação com a cultura indígena.
Na Casa do Artesão, que também foi restaurada, encontra-se o artesanato das tribos indígenas e de artistas da região.
É comprar ou lamentar mais tarde por que você não vai encontrar em lugar nenhum. 
A cerâmica colorida é da tribo Kadiwéu. A matéria prima do trabalho deles é encontrada em barreiros especiais que contêm o barro na consistência e tonalidade ideais para que a cerâmica seja durável.
O preto é extraído da resina fervida do pau santo. O vermelho provém do urucum. Os Kadiwéu são conhecidos como "índios cavaleiros", por sua destreza na montaria. 
A cerâmica da etnia terena já tem outro padrão. É feita em argila e depois vai ao forno. Eles têm conhecimento de agricultura e facilidade na adaptação a outras etnias e às condições de trabalho dos brancos, como na construção da ferrovia Noroeste no MS. A cerâmica é trabalho predominantemente feminino. Em dia de fazer cerâmica não se vai para a cozinha ("o sal é inimigo do barro"). Não trabalham com barro quando estão menstruadas e nem durante a lua nova. Os homens, tradição na maioria das nações indígenas, só extraem o barro e processam a queima, tarefas que exigem maior vigor físico.
Bugres da Conceição, Campo Grande, MS
Tem também os famosos bugres da Conceição que hoje são feitos pelo seu neto da mesma forma, na machadinha e com uma camada de cera de abelha.
Eu conheci a Conceição! Hoje em dia seus bugres são muito valorizados.
Enfim, ficou muito bonita a restauração da casa e vale a visita. Fica perto do Mercado Municipal.
O Parque das Nações Indígenas, lindo, tem museu, lago e concha acústica. Foram encontrados ali restos de povos pré-colombianos.
Parque das Nações Indígenas, Campo Grande, MS
Nestes 119 hectares dá pra ver capivaras, quatis, tucanos, lebres etc. 
Parque das Nações Indígenas, Monumento ao Índio – Praça da Zarabatana 
Monumento ao Índio, Praça da Zarabatana (lança dardo). Obelisco em formato de uma zarabatana em homenagem às culturas indígenas do Estado de Mato Grosso do Sul. Projeto do arquiteto Roberto Montezuma.

 O monumento Cavaleiro Guaicuru, é uma estátua de cavalo montado por um índio guerreiro guaicuru. Os guaicurus são índios paraguaios que incorporaram rapidamente à cultura o uso de cavalos, trazidos pelos espanhóis em 1500 (ou antes). A estátua, com sete metros de comprimento por quatro de altura, é uma homenagem a ajuda da tribo indígena que foi essencial para o exército brasileiro na região. Os Guaicurus eram índios muito valentes que habitavam os estados do Mato Grosso do Sul, Goiás e no Paraguai na região do Chaco. O nome guaicuru em tupi-guarani significa uma pessoa sarnenta, indivíduo encaroçado, malvado ou traidor. Desde a descoberta de ouro no Mato Grosso, os Guaicuru e os Paiaguá impuseram forte resistência à ocupação portuguesa em suas terras realizando ataques contínuos. 

Agora tem a novidade do Bioparque Pantanal, o maior aquário de água doce do mundo.
Com 19 mil m², tem capacidade para aproximadamente 5 milhões de litros de água e comporta até mil visitantes por dia.
O Bioparque Pantanal conta com 32 tanques, que comportam cerca de 230 espécies de peixes, sendo 80% deles originários do Pantanal.
Bioparque Pantanal, Campo Grande
A construção demorou uns 11 anos para ser finalizada devido a problemas de corrupção.
Bioparque Pantanal, detalhe no interior.
Apesar de eu achar que deveria ter mais a cara do Pantanal, a obra é muito bonita e imponente.
Um aquário foi projetado no teto do auditório do parque, passando a impressão de que os peixes nadam sobre a cabeça dos visitantes.
Há peixes de diversas regiões do mundo.
Se eu voltar lá vou aproveitar uma visita guiada. 
A parte da água tem plaquinhas mostrando os tipos de peixe e de onde são.
Já a parte onde mostram os animais empalhados eu achei muito improvisada, sem as devidas informações e eles foram colocados de forma nada didática.
Perderam uma oportunidade de dar muitas informações, a verdade é essa.
Mas o importante é que estava cheio de crianças, professores e visitantes e todos estavam curtindo. Além do mais, é de graça, desde que agendado pelo site.
O que mais gostei foi essa arraia.
Axolote
O que mais achei curioso foi o tal axolote, do México.
Eu nunca tinha visto esse bicho! Ele consegue restaurar partes dele mesmo quando são arrancadas, até partes do cérebro e do coração.
Sobre os axolotes no Bioparque Pantanal.
Eles tem sido estudados para ver se podemos entender como funcionam para aplicar essa capacidade de regeneração aos humanos. 

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