Vou contar porque também pode servir de alerta para outras
pessoas. Já levei muito tombo, mas não me lembro de ter batido a cabeça. Contei sobre eles e o que mata velho AQUI.
Passeando com a família e bem indisposta |
Em janeiro minhas netas, filha e genro vieram do Canadá para
passar uns dias e isso era tudo que eu sonhava, só que eu vinha sentindo uma
preguiça enorme. Não tinha vontade de nada. Morria de remorso.
Teve chá de bebe do meu neto e fiz um enorme esforço para participar.
Resolvia alguma coisa na rua e não via a hora de voltar para
casa e me deitar de olhos fechados. Sabia que não era depressão.
Teve casamento
e aniversário do meu filho e eu me sentindo indisposta. Plantão no stand de vendas no Shopping Colinas |
Tomei remédio para essa dorzinha de sinusite, não passou,
estranhei, fui ao PS numa sexta, fiz RX da face, tomei remédio na veia para
dor, não passou. Não justifica, disse o médico e me disse que eu teria o direito
de voltar ao PS na segunda-feira para investigar já que a dor não passou. Na
segunda, lavei a cabeça, fiz escova, peguei um Uber e voltei ao PS. Uma médica
pediu uma tomografia computadorizada do cérebro. Esse exame é feito em outra unidade. Daí precisava de um
acompanhante, coisa que eu não tinha. Como eu estava tão lúcida e bem me
deixaram ir para o outro hospital de ambulância desacompanhada para fazer a tal TC. Acredite
se quiser, um dos enfermeiros se engraçou por mim com uma conversa de falar
inglês... Estávamos indo muito bem, prosa boa, até o momento que fiz a TC e aí
perdi meu último e derradeiro fã. Ele ficou assustado! Fazia tanto tempo que ninguém me
paquerava!
Daí em diante foi um entra e sai da saleta em frente à sala
de tomografia e não me deixaram sair. Passou um médico, depois outro e depois
me aparece um anestesista. Pediram contato de alguém. Por sorte meu filho
estava na cidade. Não entendi nada do que estava acontecendo só sei que quando
me dei conta já estava na UTI esperando para ser operada de uma coisa que era
uma dorzinha mesmo. Só uma chatice. Que exagero, gente, posso voltar outro dia?
Fiquei seis dias na UTI com uma sonda na cabeça e mais dois
no quarto dividindo com uma menina fofa.
Sinceramente, o tempo todo eu pensava: Virginia, isso não te pertence. Você vai sair daqui logo.
Fica tranquila. Lembra dos mergulhos em Bonito? Lembra das piraputangas? Pois
é, você vai voltar para lá e vai mergulhar de novo.
Na UTI, lúcida e sem dor (o que já é uma benção), mesmo toda
monitorada e sem poder me mexer muito, pude observar muito bem como funciona,
ver quais enfermeiras são anjos, o tempo precioso que a burocracia tira delas, quais tem
problemas em casa e têm pressa de ir embora, quais médicos a equipe respeita,
onde é bom comer ali perto, qual enfermeira fala alto demais e dá receita de
repolho com alho frito, os pacientes que entraram e saíram, os que sempre
recebiam visita e os que ficavam solitários e calados.
Um senhorzinho estava numa UTI especial, lacrada, desde o
Natal. Um casal jovem o visitava sempre. Deus permita que eu morra em casa!
Assim como meu pai, minha mãe, minha irmã, tia Leiza, vovó Marianinha e outros amados.
Um dia chegou uma moça sentada na maca daquelas de ambulância. Ela
devia ser uns quinze anos mais moça que eu. Só a vi por segundos. Ela estava
gritando e dizendo que não era para estar ali, muito confusa e agressiva.
Estacionaram a moça do meu lado. Só uma cortina de plástico nos separava então
eu acompanhava todos os procedimentos pelos quais ela passava. Perguntei para a
enfermeira mais "amiguinha" o que ela tinha. Câncer terminal.
Conheço, acompanhei de perto (demais) na minha família. Ela sofria muito cada vez que tinham que encostar nela.
E gritava de dor. Era brava que só. Várias vezes todos os enfermeiros do plantão
ficavam juntos só por conta dela para virá-la, por exemplo. Muito sofrimento.
Nessas horas o tempo parava, ficava um suspense no ar visto que estávamos todos no
mesmo barco. Todo mundo rezando para que o procedimento acabasse logo, inclusive por que
atrasava o horário de visitas. Um dia ela gritou chorando: EU QUERO A MINHA
MÃE! EU QUERO A MINHA MÃE ! Aí foi de doer. Eu estava indo tão bem. Precisava me lembrar da minha mãe? Também quero! E chorei. Acho que todos os internados ali engoliram em seco.
Mas fora isso e dois dias que tive que ficar com a cabeça
para baixo, foi tranquilo.
Isso foi dia 11 de fevereiro. Estou ótima e sem queixas. Dei sorte por ser dias antes de declararem a pandemia e sorte com o neurologista de plantão, um craque acostumado a operar bebes com hidrocefalia. Uma pessoa dessas vai direto pro céu, mesmo sendo sério demais. Difícil faze-lo rir. Mas consegui, na UTI mesmo, quando ele apareceu uns quatro dias depois e eu falei que tinha tido um sonho com ele. É que ele me operou em pleno carnaval e depois não o vi mais, por dias. É claro, ele tem uma equipe com outros médicos e estava me acompanhando de longe, mas eu queria mesmo o próprio. Normal. Quando ele chegou, eu estava sentada numa cadeira. Disse que estava muito feliz em vê-lo pois tive um pesadelo onde ele aparecia de abadá, na Bahia, no meio de um bloco, mandando recado para mim numa entrevista, que voltaria só depois do carnaval e daí fiquei preocupadíssima. Juro que levou uns segundinhos até ele entender que eu senti falta dele e riu. Ele riu. Mas em seguida me mandou ficar de cabeça para baixo. Com a idade o cérebro da gente encolhe, sobra espaço e entendi que ele deveria aderir à caixa craniana se eu ficasse com a cabeça mais para baixo. Pior que foi bom mesmo. Agilizou minha saída da UTI. Percebi que teve gente que levou bronca. Parte culpa minha, decerto, que repetia o tempo todo que estava bem. Ele é bom, mas é enérgico. Antes assim.
Isso foi dia 11 de fevereiro. Estou ótima e sem queixas. Dei sorte por ser dias antes de declararem a pandemia e sorte com o neurologista de plantão, um craque acostumado a operar bebes com hidrocefalia. Uma pessoa dessas vai direto pro céu, mesmo sendo sério demais. Difícil faze-lo rir. Mas consegui, na UTI mesmo, quando ele apareceu uns quatro dias depois e eu falei que tinha tido um sonho com ele. É que ele me operou em pleno carnaval e depois não o vi mais, por dias. É claro, ele tem uma equipe com outros médicos e estava me acompanhando de longe, mas eu queria mesmo o próprio. Normal. Quando ele chegou, eu estava sentada numa cadeira. Disse que estava muito feliz em vê-lo pois tive um pesadelo onde ele aparecia de abadá, na Bahia, no meio de um bloco, mandando recado para mim numa entrevista, que voltaria só depois do carnaval e daí fiquei preocupadíssima. Juro que levou uns segundinhos até ele entender que eu senti falta dele e riu. Ele riu. Mas em seguida me mandou ficar de cabeça para baixo. Com a idade o cérebro da gente encolhe, sobra espaço e entendi que ele deveria aderir à caixa craniana se eu ficasse com a cabeça mais para baixo. Pior que foi bom mesmo. Agilizou minha saída da UTI. Percebi que teve gente que levou bronca. Parte culpa minha, decerto, que repetia o tempo todo que estava bem. Ele é bom, mas é enérgico. Antes assim.
Gente, que coisa mais louca é uma pessoa gulosa e taurina! O melhor do dia era esperar o barulhinho do carrinho da comida chegando e a visita do meu filho. Mas que
comidinha gostosa! Sério mesmo. Senti falta foi de tomar café e nem me lembrei
do cigarro. Só sei que a copeira colocava a bandeja no meu colo, me contava o que era e eu fazia um montinho com as mãos e engolia. Até banana comi de cabeça para baixo e bolo com calda de leite de coco. Comia de tudo. Rodrigo, além dos "para casa" (livros e cubos mágicos) me levou uma garrafinha jeitosa que dava para eu beber água sem me levantar. Resolveu.
Até a comadre eu adorei! Que coisa mais genial. Funciona
assim, os enfermeiros chegam de manhã e se apresentam. Quando era um rapaz eu
pedia gentilmente para que ele trocasse com alguma colega pois eu ficaria mais
à vontade. Teve um dia que vi que iria demorar e assim que ele saiu, me arrependi e gritei: Volta, Samir, vai você mesmo! Traz a comadre!. Sem drama. O banho diário era dado pelas enfermeiras na cama. Ainda bem que o cérebro da gente nos faz esquecer essas chatices. Se a gente esquece a
dor do parto, que dirá banhos e comadres!
Bom mesmo foi na casa da minha amiga Lisbeth que preferiu
cuidar de mim na casa dela depois que saí do hospital. Comida
caseira, moranguinho com chantilly, tudo na bandeja, assistindo escola de samba
na TV. A vida é bela! Quanto carinho recebi de tanta gente! Fazia tanto tempo
que eu não era paparicada do tipo trazerem coisa na bandeja para mim. Acho que
felicidade igual mesmo só quando minha mãe me trazia um queijo quente no pão
francês no tostex junto com um comprimido para cólica menstrual.
Sou muito grata por cada detalhe de cada amiga que me
paparicou nesse período. Geni, minha faxineira querida há 32 anos, dormiu em
casa dois dias e depois o Rodrigo. Outra amiga me levou ao médico e para tirar os
pontos. Visitas carinhosas em casa. Depois as coisas foram se acomodando, mas não vou me esquecer nunca do
revezamento das minhas amigas, da forma que puderam. Nem quero falar nomes com
medo de omitir alguém, mas me senti muito protegida de perto e de longe, tendo até que avisar quando entrava e saía do banho. Senti de verdade muito carinho. Choro só de lembrar. Só não posso até hoje é deixar de atender o celular que o
povo já acha que eu morri.
Dois meses depois quis saber o nome do que tive: hemorragia
subdural crônica. Os sintomas podem ter início semanas e até meses após o
trauma e variam de apenas dor de cabeça forte e progressiva até confusão
mental, paralisia de um lado do corpo podendo chegar até ao coma e morte.
22 de outubro de 2020- Fiz uma tomografira do cérebro e estou ótima. Tive alta! Deus seja louvado!
Daí
tive coragem de colocar a mão de verdade na minha cabeça e vi que tem dois
buracos no osso do meu craniozinho. Ainda tive sorte de não rasparem minha
cabeça. Na minha idade, a única coisa que acho bonitinha em mim é meu
cabelo e seria uma pena raspar tudo.
Me disseram que eu ia entrar em coma mais cedo ou mais
tarde. Isso explica por que, na minha chegada, na primeira TC o rapazinho da
tomografia saiu lá de dentro de onde eles ficam para se proteger, se aproximou
de mim e perguntou: A senhora está me enxergando? Nem aí percebi ter alguma
coisa errada. Ele era ruivinho, uma graça. Acabei fazendo umas cinco
tomografias enquanto estava na UTI e depois, daí sempre chamava por ele pra dizer
que ele é lindo e que eu estava viva.
Já no quarto. |
Aparentemente bati a cabeça ou levei um tranco e daí,
provavelmente por causa da Aspirina Prevent, devidamente receitada por meu
cardiologista para tomar uso contínuo começou um sangramento que deve ter começado meses atrás.
Quase seis meses depois, sem queixas. Me sinto produtiva e feliz mesmo com essa
espada do Covid-19 pairando sobre nossas cabeças.
A pergunta que não
quer calar:
- Doutor, posso beber e fumar?
- "Dona Virginia, disso a senhora não vai morrer mais, desde
que não tenha outra queda ou tranco forte."
Acabou o assunto. Fora da garantia. Ele é assim mesmo. Sem
chance de ficar tricotando com ele. E não me deu alta! Tenho que esperar um
ano. Avisa lá o ruivinho da tomografia que não morri, pelo menos
por enquanto.
Brincando com lettering - Virginia Costa |
Meu santo é muito forte, mas tá pedindo umas férias. Ele bem
que merece, mas já avisei que vai ter que esperar o Covid-19 passar. Muita coisa poderia ter dado errado. Nasci de novo. Nunca mais posso reclamar de nada! Nadica! Preciso
aprender a lição.
De lá para cá tenho feito e vendido panos de prato com crochet que acabaram se tornando uma fonte de renda com a pandemia. Criei coragem depois de assistir ao Lufe no YouTube na Espiral de Mudanças .
Pajaki - Virginia Costa |
E coisas melhores ainda aconteceram, meu terceiro netinho nasceu! O Apolo. Coisa
mais lindinha do mundo.
E tem o bônus da minha vida que é a outra netinha, Isabeli,
filha da minha filha que a vida me deu de presente nesse meio do caminho.
Agora, quatro netinhos. Amém, Jesus!
Comentários
Me lembra e acho q vc puxou vô Totó .
Diziam q formava roda de pessoas no café da cidade , p escutarem seus “causos’
Qdo a gente começa a ler n para mais.
Até doente vc é engraçada 😁😁
Continue assim 👍
Parabéns
Parabéns pelo modo como encara a vida...esses dias li no face algo que adorei e que me lembra vc..." Viver é uma dádiva e saber viver, uma virtude".
Continue escrevendo e nos divertindo...já te disse, deu na todos escritos e publique um livro...vai ser um estouro de vendas! 😘😘😘